Escrito por: Rita Trindade
Para introduzir o tema proposto – Marcas portuguesas vs Made in Portugal – será relevante perceber o palco onde tudo acontece – a cultura, que por sua vez engloba o design e o mundo das marcas.
“Estar atento a todas as categorias que a cultura contempla, saber mediar e interpretar referências culturais, torna-se essencial, quando se analisam Marcas Portuguesas ou objectos Made in Portugal.”
Não existem marcas sem cultura. A cultura é referenciada em diferentes contextos, é abrangente e pode integrar quase todos os nossos hábitos e comportamentos. Segundo Raymond Williams (Raymond Williams, 1998, p. 50), três categorias gerais coexistem na definição de cultura: a ideal (valores absolutos e universais), a documental (corpo de trabalho intelectual e imaginativo) e a social (expressa certos significados e valores implícitos e explícitos numa cultura particular).
Quando a cultura é expressa de uma forma tangível – objetos de arte, artefactos, património cultural – a noção de cultura como um ativo é facilmente compreensível. Da mesma forma, os fenómenos culturais mais amplos – tradições, língua, literatura, música, ideias, práticas – são considerados ativos intangíveis, que pertencem ao referente grupo. Os dois ativos – tangível e intangível – integram a própria definição de capital cultural (David Throsby, 2001). De salientar é também a abordagem de Pierre Bourdieu na questão do capital cultural, onde identifica o capital simbólico. Este tipo de capital revela-se no estatuto simbólico que o objeto nos traz quando o obtemos, representando também o seu valor acrescentado.
“Ao trabalharmos questões relativas à valorização das marcas, estamos a aumentar a percepção de valor/Capital Simbólico das mesmas – e, consequentemente, a ampliar o valor dos seus activos, serviços e productos.”
O que acontece então às Marcas Portuguesas e ao Made in Portugal? E qual o seu papel e importância na cultura capital? Quando compreendemos a importância da cultura e do capital simbólico na perceção global do design Português enquanto marca, podemos dizer que tanto as Marcas Portuguesas como o Made in Portugal transportam consigo uma representação de um ecossistema, de uma cultura em constante mutação, interpretação e especialmente suscetível às mudanças sociais, políticas e culturais do seu contexto. Estas duas marcas podem nutrir a relevância histórica e cultural uma da outra e, consequentemente, aumentar o valor económico de ambas. Neste espaço comum, o Made in Portugal parece traduzir a forma como ‘nós’ fazemos as coisas (HOW). Realça uma certa maneira e capacidade de articular ideias, conhecimento e tecnologia dentro da sua própria rede e cultura, enquanto responde com sucesso à sua rede de parceiros e clientes. As Marcas Portuguesas, em articulação ou não com o Made in Portugal, trabalham não só na forma COMO ‘nós’ fazemos (COMO criamos e concebemos soluções em consonância com o nosso modo de vida) mas também PORQUE é que as fazemos, porque é que criamos o que criamos – ambos representam ativos tangíveis e intangíveis do capital cultural.
“Quando compreendemos a importância da cultura e do capital simbólico na perceção global do design Português enquanto marca, podemos dizer que tanto as Marcas Portuguesas como o Made in Portugal transportam consigo uma representação de um ecossistema, de uma cultura em constante mutação, interpretação e especialmente suscetível às mudanças sociais, políticas e culturais do seu contexto.”
Estar atento a todas as categorias que a cultura contempla, saber mediar e interpretar referências culturais, torna-se essencial, quando se analisam Marcas Portuguesas ou objectos Made in Portugal. As constantes transformações na cultura fazem com que tenhamos e desenvolvamos diariamente um legado de objetos tangíveis e intangíveis do capital cultural. Ao trabalharmos questões relativas à valorização das marcas, estamos a aumentar a percepção de valor/Capital Simbólico das mesmas – e, consequentemente, a ampliar o valor dos seus activos, serviços e productos.
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